Brazil
September 2, 2013
"As dificuldades da triticultura no Brasil resultam das questões de mercado e não de tecnologias e de produção”. A afirmação de Eugenio Stefanelo, técnico de operações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foi corroborada por vários participantes do 8º Fórum Nacional do Trigo, realizado na quarta-feira, em Londrina (PR). O evento reuniu no Parque Ney Braga representantes da cadeia produtiva do cereal e foi realizado simultaneamente com a 7ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (RCBPTT).
Stefanelo participou do painel “Mercado do trigo brasileiro:tendência de preços para a próxima safra, importação, exportação, situação atual de logística e tributação”. Visões dos produtores, industriais e da área tributária foram contempladas nos debates sobre o tema.
O técnico da Conab afirma que problemas climáticos agravaram os problemas do trigo nesta safra. “As geadas vão provocar perdas até agora de quase 900 milhões de toneladas, que devem aumentar com a geada de hoje (dia 28 de agosto)”, afirmou.
Stefanelo ressalta que a falta de uma política de segurança alimentar causa dependência da importação. Hoje o Brasil não produz 50% das quase 11 milhões de toneladas necessárias ao abastecimento.
Segundo o técnico, atualmente não há trigo em estoque e as perdas com as geadas podem comprometer em algum grau o abastecimento no Brasil. “A primeira safra que entra no mercado é a paranaense, seguida da gaúcha, que também sofrerá perdas por causa da geada. O trigo argentino só chegará a partir de janeiro”, afirma. Com isso, o Brasil tem contado com o trigo importado dos Estados Unidos e Canadá, que tem um custo de US$ 50,00 a mais por tonelada.
Logística e estrutura de armazenagem são outras questões que interferem decisivamente no mercado de trigo. Stefanelo afirma que mesmo que a produção da região sul chegasse a 4 milhões de toneladas, não haveria mercado para o produto.
“É mais vantajoso para os moinhos comprar trigo importado do que usar o brasileiro. Não há no país condições para remoção da região produtora ao mercado consumidor”, afirma.
A deficiência do setor de armazenagem também afeta o setor. Segundo Stefanelo não há estrutura para manter trigo estocado na entressafra quando as condições de comercialização são mais favoráveis. “O trigo tem que ceder espaço para a soja e milho e quando o governo adquire o produto também não tem estrutura para armazenar”, diz.
O técnico da Conab afirma que a solução deste problema exige muitos investimentos, o que vem sendo buscado com a política de estímulo, como o Programa de Construção de Armazéns (PCA) do governo federal, que tem financiamento com prazo de 15 anos, com três de carência
Os produtores também se queixam da remuneração do trigo. “Na colheita, corre-se o risco de não cobrir os custos de produção. O produtor precisa de liquidez na hora da comercialização”, diz Tarcísio Minetto, superintendente da Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Fecoagro).
Minetto ressalta que os investimentos na produção são importantes porque além de contribuir para a economia nacional, o trigo é uma alternativa para a rotação de culturas. “É preciso investir em políticas de longo prazo, que deem maior segurança ao produtor”, sintetiza.
Presidente da Cooperativa Integrada, Carlos Murate cobra uma política que incentive o agricultor a permanecer na produção de trigo. “Se o apoio fosse efetivo não viveríamos a realidade de estar perdendo áreas de cultivo do produto”, critica. Ele cita a situação enfrentada pelos produtores no ano passado. “Ficamos cinco meses sem mercado. Em setembro, início da colheita paranaense, não tinha ninguém comprando”, relata.
Murate afirma que a importância do cereal para a economia brasileira justifica investimentos e atenção especial. “O produtor planta, colhe, tem gastos e quando vai vender muitas vezes não recebe pelos custos da lavoura”, enfatiza.
Os produtores têm procurado atender as necessidades dos moinhos. Segundo Nelson Montagna, responsável técnico do Moinho Anaconda, o produto ofertado às indústrias é de qualidade, porém falta homogeneidade. “A quebra nesta safra trouxe algumas complicações porque recebemos trigo bom e ruim, além de termos que importar dos Estados Unidos porque não há produto: a safra brasileira ainda será colhida e a Argentina não está vendendo ao Brasil”, descreve.
Montagna diz que no Paraná 60% do trigo industrializado no Moinho Anaconda são de origem nacional. “Incentivamos a produção com a troca de sementes. Fornecemos a semente para o plantio e o produtor devolve em trigo”, afirma.
De acordo com o técnico, as características apresentadas pelo grão levam as empresas a importar. “Produzimos 60 tipos de farinhas e, por isso, precisamos de trigos diferentes. Muitas vezes mesclamos trigos nacionais e importados para obter o produto certo”, explica.
Ele também destaca que o transporte encarece o custo do produto nacional, por vezes inviabilizando a comercialização. “No Nordeste acaba compensando importar trigo americano do que arcar com os custos da remoção do trigo do sul por rodovia ou cabotagem”, diz. Montagna acrescenta que a falta de estrutura dos portos também dificulta o recebimento dos grãos.
A 7ª RCBPTT e 8º Fórum Nacional do Trigo são promovidos pela Embrapa Trigo, Fundação Meridional e Cooperativa Integrada, com o apoio da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e Sociedade Rural do Paraná. O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Embrapa Soja e Embrapa Produtos e Mercado são instituições parceiras.
Assessoria de Imprensa da 7ª RCBPTT e 8º Fórum Nacional do Trigo